A AEAGRAN E A IMPLANTACAO DA AGRONOMIA FEDERAL EM DOURADOS

Eng. Agr. Edgard Jardim Rosa Junior

Com a Marcha para Oeste, o presidente Getulio Vargas resolveu tomar definitivamente posse dessa grande região brasileira em nossas fronteiras, pois se tinha grandes problemas locais, como o domínio da Mate Laranjeira, abandono dessa imensa região no pós guerra do Paraguai e dos poucos agricultores que ainda lá trabalhavam e ocasionalmente até pequenas invasões de paraguaios. Para tanto, criou o Território Federal de Ponta Porá e a Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND).

Também foi implementada, pelo Governo Estadual, embora com área menor, a Colônia Municipal de Dourados, que posteriormente originou o município de Itaporã.

A CAND foi o chute inicial para o grande desenvolvimento de nossa região e do AGRO, mas até o tal desenvolvimento vir, muito problemas aconteceram. O primeiro deles, e maior de todos, foi que os agricultores que vieram trabalhar na CAND não tinham experiência com o campo. Esse fato gerou, a partir do final da década de 40, por parte do Chefe da CAND, Sr. José Coutinho Aguirre, uma grande mobilização para que nessa região fosse criado um Curso que formasse profissionais da área da agricultura, causando ainda a vinda de muitos Eng. Agr. para  nossa região.

Esse movimento cresceu muito e, mais tarde teve apoio de órgãos de classe, especialmente da AEAGRAN, da Igreja Católica e Protestante, Maçonaria, Associação Comercial de Dourados e políticos da região. Dentre esses merece citação o prof./Vereador/Deputado Celso Amaral que mobilizou muitos estudantes e a luta pela Faculdade de Agronomia se intensificou.

Em função dessa grande e longa mobilização, o Governo Estadual Construiu os prédios para abrigarem a FACULDADE DE AGRONOMIA (Figura 1).

Figura 1: Prédio recém construído da Faculdade de Agronomia.

Figura 1: Prédio recém construído da Faculdade de Agronomia.

O prédio da Faculdade de Agronomia foi inaugurado em 20/12/1970. No entanto, dois meses depois o mesmo Governador, Pedro Pedrossian, ao invés de lá instalar a Faculdade de Agronomia, montou vários cursos da área de humanas, por solicitação de setores da Comunidade.

Esse conjunto de prédios recebeu a denominação de CEUD e hoje abriga a Reitoria e Administração da UFGD.

A luta de quase 20 anos pela Faculdade de Agronomia (FA) foi em vão? Essa foi a pergunta que se faziam os atores da região da Grande Dourados que tanto lutou por essa Faculdade.

A resposta foi NÃO ?

Nesse momento, o Prefeito Municipal de Dourados, que era o Eng. Agr. José Elias Moreira, cuja AEAGRAN auxiliou no processo eletivo e os principais atores do passado, recomeçaram a luta pela Faculdade de Agronomia, até com passeatas pelas ruas de Dourados como exemplifica a Figura 2. Nessa primeira passeata, esteve presente até o Deputado Paulo Saldanha, presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso (O Estado ainda era Uno).

Figura 2: Passeata promovida pelo prefeito Josè Elias e pela AEAGRAM pela FA.

Nesse momento, a AEAGRAN já era considerada muito forte (45 anos atrás), pois tinha mais de 100 Eng. Agr. em seus quadros.

Tudo isso ocorreu durante a divisão do Estado de Mato Grosso. Essa união entre prefeitura, AEAGRAN, Presidente da Ass. Leg. de Mato Grosso e Deputados da região da Grande Dourados e de Cuiabá foi muito importante para implantar a FA em Dourados em 1978, porque o reitor da antiga UEMT (era una também) e deputados da região de Campo Grande queriam que a FA fosse instalada em Campo Grande e não em Dourados.

Em função dessa disputa para “onde” implantar a FA, até fatos inusitados aconteceram na Assembléia Legislativa de Mato Grosso, valendo destacar que os Deputados ligados a Campo Grande queriam que o novo Estado recebesse o nome de “Estado de Campo Grande”, o que o Governador da época, Sr. José Garcia Neto não aceitava. Em função disso, houve união entre os deputados da região da Grande Dourados e de Cuiabá, que definiram o nome de “Mato Grosso do Sul” para o novo Estado.

Muita luta houve nesse meio tempo, até que a “Faculdade de Agronomia” fosse definitivamente implantada em Dourados. E nesse contexto, a AEAGRAN sempre foi grande parceira. Um exemplo prático pode ser visto na Figura 3, onde se tem uma fotografia de uma reunião do COUN (órgão Maximo da então UEMT – Universidade Estadual de Mato Grosso), onde se discutiria o local de implantação da FA (se em Campo Grande ou em Dourados).

Na Figura 3 se pode observar um membro da AEAGRAN (primeiro homem em pé a direita), o finado Eng. Agr. Osmair Scarpari, grande amigo e lutador pela classe, discutindo ferozmente com o então reitor da UEMT, um iluistre defensor de que a FA fosse implantada em Campo Grande.

Figura 3: Reunião do COUN, em Campo Grande com participação da AEAGRAN.

Por solicitação do prefeito Jose Elias Moreira, de políticos locais incluindo o Deputado Estadual Walter Carneiro e representantes da AEAGRAN, esteve em Dourados o Governador de Mato Grosso que, em uma reunião na Prefeitura de Dourados onde, depois de muita conversa, deu um soco na mesa e disse: “se a Agronomia for implantada no Estado de Mato Grosso, sera em Dourados (Figura 4).

Pouco tempo depois, o Governador Garcia Neto, tendo sido convidado para ser Paraninfo de todas as turmas formadas no CEUD (que foi instalado nos prédios onde seria implantada apenas a “Faculdade de Agronomia”) surpreendeu todos os presentes ao iniciar sua fala. Nesse momento, antes de parabenizar os formandos, ele assinou o decreto de instalação da nossa Agronomia em Dourados.

Figura 4. Governador de Mato Grosso define que a Agronomia será em Dourados.

Com a Agronomia em fase de implantação, mais uma vez a AEAGRAN teve um papel importante e atuou  no seu inicio.  Tem-se que citar o papel importante que a EMBRAPA, sob a chefia do Eng. Agr. Jose Ubirajara Garcia Fontoura teve, fornecendo estágios, área para os estudantes montarem experimentos de estudantes e laboratórios, se houvesse necessidade.

Além disso, e fora os colegas Engs. Agrs. que se dispuseram em colocar seus nomes como possíveis professores, no projeto inicial de implantação do Curso de Agronomia, a AEAGRAN viabilizou, entre seus filiados e com o Governo do Estado a liberação parcial de muitos colegas para ministrarem as disciplinas iniciais do Curso.

Dessa forma, tivemos muitos colegas nos auxiliando no início, quando as nossas dificuldades eram muito maiores, e foram eles os que seguem:

ARI FIALHO ARDENGUI

CARMO TOLEDO FERRAZ

DOMINGOS SAVIO DE SOUZA E SILVA (1)

EGON KRAKHECHE

LUIZ CARLOS RODRIGUES MORAES

JOSE JOAQUIM DE SOUZA

IVO ARCANGELO BUIZATO

ROMULO DAROS

SUELI KRAKHECKE

VALDERI DIAS

(1)     O Eng. Agr. Domingos Sávio de Souza e Silva, alem de ministrar uma disciplina, foi o primeiro chefe do Departamento de Ciências Agrárias da UFMS. Nessa época ele fazia parte da Diretoria da AEAGRAN.

E para encerrar esse relato gostaria de colocar que tive a honra de auxiliar na Diretoria da AEAGRAN especialmente como secretário, nos idos dos anos 80. E, nessa época, alem dos afazeres do cargo, fazíamos outras ações.

Recordo-me que uma dessas ações foi implantar o 1o  TIAFS (Torneio de Integração Agronômica de Futebol de salão), no qual eu tive apoio do colega Eduardo Serafim de Souza e cuja abertura se pode observar na Figura 5.

Figura 5: Início dos jogos do 1º  TIAFS

Essa competição tinha como fundamento básico a integração dos estudantes de Agronomia do nosso Curso, na época UFMS, junto ao mercado de trabalho regional. E, coincidentemente, a equipe vencedora foi a dos estudantes de Agronomia/UFMS, desde de 2005 UFGD.

 

Publicado em 17/04/2023